Dia 8, de não sei quantos...

Torres del Rio - Navarrete: 33 km


7h30, fui o último peregrino expulso do albergue dos mal-humorados da vida. Noite mal dormida, porque frio + cobertor que deslizava em cima do saco-cama. Imaginem o resto. Perdi essa batalha e saí, rumo a Logroño. Pelo menos esse era o plano.


Fiz a maior parte do caminho sozinho, com e sem música, de vez em quando cruzando com o John, um professor de Maryland - chamo de John, porque esqueci o nome dele, então para mim, ficou John, que ele goste ou não. Ele também tinha dormido no albergue amoroso e também gosta de cervejas escuras. Mas falamos muito pouco, até agora, então não mereceu foto.


Muitas vezes passamos por pequenos montículos de pedras. Aparentemente cada peregrino traz uma pedra de casa, para deixar numa dessas torres equilibristas, uma forma de deixar os pecados, medis, dores, etc, pelo Caminho. Eu não trouxe pedra nenhuma de Brasília. Eu está contando quantas gramas pesava uma cueca, para saber se podia trazer, imagina trazer pedra. Nope. Um peregrino disse que viu lugares onde se podia jogar cuecas fora. Faz mais sentido. Se a lenda se confirmar… quiçá eu deixe cuecas pelo Caminho.


Como é que sei o caminho? Basicamente, temos de prestar atenção aos sinais. E os sinais são, na maior parte das vezes, uma seta amarelo, como essa aí na foto. Às vezes são sinais bem claros, como esse aqui, mostrando a direção de Estella.

Ou este, quase chegando a Logroño.

Mas, às vezes temos decifrar restos de marcadores e em que sentido apontam.

Mais uma lição de vida: aprendam a ler sinais!


Passei por Viana, cidadezinha de 800 anos, várias igrejas, das quais uma em ruinas, mas com a melhor vista da região. Deve ter algum aprendizado disso.


Quase não vi isso tudo, em Viana. O Google maps dizia que eu poderia seguir pela esquerda, acompanhando a estrada, em direção a Logroño. A seta amarelo apontou para a direita e para cima. Sempre a escolha entre o fácil e o difícil. Claramente tendo a escolher o difícil, o que é claramente estranho, já que sou naturalmente preguiçoso. Muito estranho, isso tudo. Preciso lembrar de levar isso para a próxima sessão de terapia. Enfim. Neste caso, ainda bem que subi.


Depois de Viana, longo pedaço de chão cheio de história e histórias, sempre.


Histórias de tempos horríveis mais recentes, também.


E depois, a ponte na entrada de Logroño, com a cidade velha no fundo.


Entre mais catedrais e igrejas, Logroño também tem este objeto fálico aleatório, provavelmente roubado de alguma civilização mesopotâmica.

Se Napoleão (e outros) fez isso a rodo, porque os espanhóis (e outros) não fariam?


Eu ainda não tinha decidido se ia ficar em Logroño ou se ia continuar mais um pouco. Tinha feito 20 km, estava bem, embora com fome. Olhei para o relógio urbano e ele me deu a "minha hora".

Não me perguntem porquê, mas li nessa coincidência um "senta, come e segue". Cada um interpreta sinais como quiser. Mais uma pérola do Caminho.


Almocei espetacularmente, por míseros 15 dinheiros.

Carpaccio de cogumelos portobello, com molho de mostarda e mel.


Ovos fritos c/ gema mole, jamón serrano e batata palha.


Pudim caseiro com chantilly, tudo regado por uma deliciosa cerveja vermelha (tostada, como eles dizem). Deu fome de novo, só de escrever!


Mas a vida não é só isso, no Caminho. Na verdade, a maior parte das refeições não têm nenhum desse requinte e por isso não falei até agora.


Pé no caminho, o plano, agora, era tentar chegar a Navarrete, 13 km adiante. Atravessei a cidade pela rua principal, virei à esquerda no final, entrei num gigantesco parque e rumo a Navarrete! Melhor coisa do dia foi quando, no meio da estrada, encontrei outra vez o casal irlandês de que falei em algum momento: Simona e Damian.

Quando eles me ultrapassaram há uns dias atrás, eu achei que nunca mais os encontraria, dado que estavam caminhando muito rápido. Fiquei muito feliz! Deta vez tivemos muito mais te.po para conversar e a caminhada ficou bem mais leve. Passou num instante, com tantas gargalhadas e histórias. Assim descobri que são amigos, trabalham na DHL - ele é motorista e ela trabalha na parte administrativa, ele é irlandês e ela é búlgara, mas mora em Dublin.


Na chegada a Navarrete, ainda encontrei de novo a Ingrid, a belga da 1a etapa. Aí ficamos tod@s juntos num quarto "privado" (6 beliches, mas só nós 4), no albergue. Depois dos banhos, procuramos um lugar para jantar e encontramos um lugar perfeito: tapas deliciosas de vários tipos e boa cerveja. Comemos caracoletas, cogumelos grelhados, chouriço, salada de aspargos, almôndegas, grãos de bico temperado e mais outras coisas que a cerveja e conversa divertidíssima não me permitem lembrar. Aí uma menina veio para a nossa mesa, porque ela escutou o sotaque da Simona e reconheceu uma compatriota. Ela se juntou a nós, se chamava Janette e também era super divertida. 

Aqui, nóis, na balada de Navarrete.


Depois disso, foi xixi, cama. Era para escrever alguma coisa, mas o sono foi maior. 


Paz

Comentários

  1. Olá David, o ritmo da marcha está muito bom e os encontros e reencontros são estimulantes. Keep walking. Buen Camiño.

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  2. Bora meu portuga , ansioso pelo dia 09

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