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Mostrando postagens de agosto, 2010

Memórias da chuva...(1)

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Desde que a memória me consegue levar, sempre adorei a chuva. Não existe cheiro mais apaziguador e inebriante que aquele que antecipa a chuva. Em todos os países por onde passei tenho uma lembrança boa associada à chuva. Em Bissau lembro-me do quanto antecipávamos a chuva. Nós crianças, adorávamos tomar banho de chuva. Era a melhor coisa do mundo. Os rapazes jogavam futebol no meio das ruas desertadas pelos carros, as meninas corriam embaixo das goteiras que deixavam cair enormes quantidades de água. Tanto que ás vezes doía. Lembro-me de uma vez que eu estava a voltar para casa de um futebol perto de casa, devia ter os meus 11 anos. Eram por volta das 4 da tarde e de repente ficou tudo escuro. Nunca tinha visto algo igual. Em casa estava só a minha avó e não havia eletricidade – fato normal em Bissau e muitos outros países africanos – e eu queria ir para rua tomar banho quando a chuva caísse. Era estranho porque o céu estava cinza escuro e não havia vento. Minha avó ficou com medo e nã

Um mundo de contradições

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É para qualquer pessoa de boa vontade enlouquecer de vez... A França, aquele país de onde veio a declaração universal dos direitos do homem, está a expulsar Ciganos pelo segundo dia consecutivo. A hipocrisia a este nível me dá nauseas. E eu fico aqui a pedir coerência... Mas é isso. É o Mundo onde vivemos. Enquanto lá fora o Mundo late palavras de ordem encharcadas de intolerância e ignorância, Milan, o meu principezinho de 9 anos escreve  isto   <-- Afinal há vida e esperança...

Não tenho medo da morte!

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Pois não! Nos últimos tempos tenho visto muitas mortes repentinas, de pessoas da minha geração ou pouco mais velhas (“muitas”? Que exagero. Talvez não tenham acontecido mais do que o costume e eu tenha estado mais atento. Será?). Não estou a falar de mortes por doenças longas, de velhice, ou de outras causas talvez mais “compreensíveis”. Estou a falar de mortes por razões estranhas, normalmente não identificadas, como crise cardíaca, ruptura de aneurisma etc. Ou seja, estou a falar de pessoas perfeitamente saudáveis (pelo menos em aparência) que de repente, pfff, morrem, sem mais nem quê. Acho que não imagino sequer a dor que deve ser para os familiares, amigos, amantes etc, perder uma pessoa assim de forma tão pouco “digerível”. Isso tudo para explicar porque pensei na morte. Pensei muito nisso. Não tenho medo da morte em si, não tenho medo do “deixar de ser”, de deixar de respirar etc. Tenho medo da dor, seja ela qual for, física ou psicológica. Tenho mesmo terror da dor. É um

Conversas de boteco...

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Pouca coisa é melhor do que isso. O mais dificil é lembrar-me de todas. Uma pérola ouvida hoje no bar em baixo da minha casa, quando eu voltava do tênis. Seja dito en passant, que eram umas 3 da tarde e só estavam lá 3 pessoas, uma delas sendo o dono do boteco: Joãozinho! Cê tem que tomar uma Seleta pa ir dormi! Cê que mora sozinho, cê toma uma seletinha e apaga igual Cinderela. É só pendurar a cueca no ventilador e desmaiar sorrindo té dia seguinte! Eu morri de rir (discretamente) ao ouvir isto. A parte da cueca (que áté agora me faz rir às gargalhadas sem entender a piada) e o "dormir sorrindo", representação absoluta da felicidade :D

Um pouco de Luz...

Para aqueles que se perguntam de onde vieram as palavras que estão ali no cabeçalho do blog... Da minha antiga banda, nuttshell (ou nutt's hell  como me divertia dizer...), com Miguel (voz), Bruno (batera) e Diogo (baixo). Uma versão ao vivo... E uma interpretação em vídeo, por um estudante de cinema. Depois desta leitura fiquei curioso de saber o que as pessoas pensam que é o tema da musica, do que ela fala... Digam lá ;)

Início do projeto: kaleidoskope

A música vai voltar! Conheçam o projeto kaleidoskope em todas as suas vertentes, ajudem a torná-lo realidade! Como? Divulgando, viralizando, ajudando a encontrar as pessoas certas para construir a casa ;) E caso depois gostem, just show and spread the love!

No carro gosto de deixar passar...

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...outros carros, bicicletas, pessoas, o que seja. Sinto-me bem, bom, importante, ao fazer aquele gesto magnânimo com a mão que diz "sim, irrisório/amiúde/miserável mortal, podes passar que eu deixo...". É um prazer vislumbrar esse fugaz momento de surpresa misturado com felicidade na cara de quem estou a deixar passar. Sinto-me mestre do mundo! :D E é patético que exista esse momento, não é? Não é como se eu estivesse a dar um milhão ou a salvar uma vida. É apenas um gesto de cortesia básica, civismo, convivência... Mas isso seria sem contar com os milhares de condutores imbecis que quase atropelam pessoas bem intencionadas que atravessam nas passadeiras – passagens para peões, para os lusos - identificadas para esse efeito. Só visto o olhar de desespero das pessoas que tentam chegar ao outro lado. E quando chegam do outro lado têm aquela cara do soldado que conseguiu passar de um esconderijo para outro enquanto berra “suppressing fire! suppressing fire!”, como nos filmes de

Uma mesquita perto do Ground Zero?

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Acabei de ver esta notícia : uma comissão interna autorizou a construção de uma mesquita perto do Ground Zero, o lugar onde aconteceu o atentado do onze de setembro. É obvio que para os americanos é uma questão sensibilíssima. Nesta  votação online que acompanha o artigo verão que, quase 10 anos depois, estamos longe do “perdão”. Eu já tinha comentado isso no post da minha visita a Nova Iorque . A ferida é gigantesca ainda, é fisica, e é mental. Pior ainda, mostra que o grande público ainda assimila (e provavelmente sempre assimilará) a ação de um grupo de fanáticos degenerados a uma guerra entre o Islã e os EUA. Confesso que a minha reação inicial é claramente a favor da construção. Vejo isso como um grande ato de coragem, demonstra uma vontade magnânima de trilhar o caminho em direção à paz (exige coragem e humildade). Mas ao mesmo tempo alguns dos argumentos são contundentes de justiça nua e dura. Este particularmente ressoou em mim: “aceitamos a construção da mesquita se for autor