Não tenho medo da morte!

Pois não!
Nos últimos tempos tenho visto muitas mortes repentinas, de pessoas da minha geração ou pouco mais velhas (“muitas”? Que exagero. Talvez não tenham acontecido mais do que o costume e eu tenha estado mais atento. Será?). Não estou a falar de mortes por doenças longas, de velhice, ou de outras causas talvez mais “compreensíveis”. Estou a falar de mortes por razões estranhas, normalmente não identificadas, como crise cardíaca, ruptura de aneurisma etc. Ou seja, estou a falar de pessoas perfeitamente saudáveis (pelo menos em aparência) que de repente, pfff, morrem, sem mais nem quê. Acho que não imagino sequer a dor que deve ser para os familiares, amigos, amantes etc, perder uma pessoa assim de forma tão pouco “digerível”. Isso tudo para explicar porque pensei na morte.

Pensei muito nisso. Não tenho medo da morte em si, não tenho medo do “deixar de ser”, de deixar de respirar etc. Tenho medo da dor, seja ela qual for, física ou psicológica. Tenho mesmo terror da dor. É um dos medo que não consegui exorcizar, racionalizar. Continuo a trabalhar nisso. Mas isso é outra história.

Parte de como cheguei a esse “não ter medo” está explicado precisamente no texto sobre o medo. Não encontrei até agora nenhuma razão para acreditar num “além”, num Deus, num paraíso, numa vida depois da morte, no “viver várias vidas’ etc. Não quer dizer que nunca venha a mudar de opinião, longe disso. Quer dizer que até ser convencido/convertido, prefiro uma abordagem analítica e profundamente ancorada na crença (num sentido platónico, de “opinião”, o oposto de conhecimento) de que o homem é de facto capaz de entender, explicar e fazer (quase) tudo. Isso justifica/explica em parte porque tenho essa abordagem. Depois há o resto.

E o resto é, o de que tenho medo na morte. Quantas vezes imaginei (e imagino) como seria se eu morresse, se o meu filho, minha mulher, algum dos meus irmãos, minha mãe, minha avó etc, morresse. Note-se que só posso conjecturar a dor que sentiria, visto que nunca senti (e espero não experimentar tão cedo) essa dor. No entanto, nenhuma dessas situações (imaginárias) me pareceu tão difícil como o imaginar a dor que sentiriam se EU morresse. Estranho? Nem por isso. Vejam só. Com a MINHA dor posso eu lidar pois é minha. Sei como a sinto, como a exorcizo, como a reduzo etc. Com a dor dos outros, numa situação em que não só não estou lá para ajudar, como sou a CAUSA dessa dor tão extrema, a coisa se torna insuportável. É estranho porque é um altruísmo misturado com egoísmo, salgado e doce. Altruísmo porque não gosto de ver ninguém sofrer, muito menos por minha causa. Egoísmo porque não deixa de ser um momento em que se torna evidente o quanto sou importante para os outros.

Enfim. Se calhar é um tema sério demais para este tipo de exposição, não sei. Fica aqui na mesma. O exercício de funâmbulo é assim mesmo, sem redes de segurança. Alea jacta est!

Paz!

Comentários

  1. Curioso você ter chegado à conclusão que o sentimento é de altruísmo e egoísmo ao mesmo tempo. Enquanto lia, fui sendo levada a isso. Nunca antes tinha visto alguém com tal miscelânea de sentimentos sobre um só fato.

    Mas também não lido bem com essa dor. Não é com a morte em si. Morreu acabou. Ok. Mas e o que não acaba? E a dor que fica?

    Não lido mesmo com o assunto. E, por mais que já tenha vivido a sensação algumas tristes vezes, sei que as piores ainda estão por vir...

    Quando chegar a essa altura, conto com os amigos. :)

    Beijos.

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  2. Mas é verdade, são sentimentos antagonicos mesmo. Mas bom, é só mais um medo com o qual aprendemos a lidar... ou não :)
    Beijos

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