Dia 29, de não sei quantos...

A Salceda - Santiago de Compostela: 29,5 km

Este vai ser o último texto desta série. Daqui para casa, vai ser algo só meu, pode ser? Mas antes de descrever a última etapa, muito, muito, muito obrigado a cada par de olhos que acompanhou a jornada aqui. Fiquei surpreso destes relatos chegarem a pessoas que eu não imaginava e, melhor ainda, saber que essas pessoas estavam torcendo por mim, por seja lá o que for que eu procurei no Caminho. Sei que nem todos se manifestaram, mas saibam que também têm a minha torcida. De verdade. Gosto muito daquela frase "fácil" que diz "feliz primeiro dia do resto da sua vida!". Então que seja um feliz primeiro dia do resto das nossas vidas! Achou isso lamecha? Então pare aqui, porque vai piorar e muito! 😀

Assim começou o dia: chuva. E assim correu o dia, durante várias horas. Umas 5, para ser exato. Isso comprometeu muito as fotos, mas aqui estão umas poucas.

Tudo encharcado, o tempo inteiro. E a capa de chuva, embora proteja da chuva, retém condensação, embora em menos quantidade. Mas a verdade é que só a mochila não estava com água, durante quase toda a etapa.

Depois de uns 15 km, os pés pediram arrego. Eu achava que a chuva ia parar depois das 11h, mas ela se manteve firme. Parei na frente de um mercadinho de aldeia e, surpresa, tinha cerveja escura!

O riso forçado é esforçado é porque ainda faltavam uns 13 km e, francamente, nesta altura, eu já tinha gasto meus insultos à chuva, em várias línguas.

Ainda bem que tinha a paisagem, certo?

E, à medida que nos aproximávamos de Santiago, o cortejo aumentava. Acima, estávamos a pouco mais de 7 km da Catedral. Algumas pessoas já se mostravam emocionadas. E ver uma pessoa emocionada nestas circunstâncias, é como ver alguém bocejar: contagioso. Mas a maioria se mantia focada na caminhada e nos sinais dispersos, indicando a direção.

A 5 km da cidade fiz outra pausa, mas foi diferente. Travei. Pedi uma cerveja e uma torta de Santiago e fiquei uns 10 a 15 minutos olhando para a mesa. Dei-me conta que essa seria, provavelmente, a última vez que eu faria isso, antes de terminar em Santiago. Eu olhava as pessoas passar na frente do café, pessoas de vários cantos do planeta, cada um com o seu conjunto de razões para estar aí, alguns pela primeira vez, outros poucos com mais tempo de Caminho… uma senhora sentou do meu lado e só perguntou "are you ok?". Ela viu a minha expressão e a falta de resposta, sorriu e disse "it's gonna be ok!". Sorri de volta e perguntei se ela já tinha feito o Caminho. Ela disse que não, mas que sabia que ia ficar tudo bem. E essa frase é simbólica para mim, porque é basicamente o meu pedido para as deusas e deuses do Caminho: que todo mundo fique bem.

E assim cheguei nos arredores de Santiago. Fiz um último desvio pela colina mais alta do Monte do Gozo, e segui para a cidade.

Um casal na minha frente, assim que viram o sinal indicando a direção da Catedral, deram as mãos e caminharam assim até chegar na catedral

E como ainda não tenho palavras, fica aqui o último quilômetro.

Paz!

Comentários

  1. Foi muito emocionante acompanhar-te pelo Caminho!! 🫶🏼

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  2. Bom caminho para nós!!! Até a próxima aventura meu amigo!🙏

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  3. Amei cada passo, cada foto e cada frase. De alguma forma, foi como caminhar com você. Obrigada. It’s gonna be ok.🙏❤️

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  4. Mas só agora descobri como deixar meu nome aqui…hehehe

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  5. Revivi o Caminho com tuas aventuras. Me emocionei e também ri muitas das histórias narradas. Keep walking Buen Camiño.

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    1. Foi uma aventura para uma vida! Obrigado pela companhia! :)

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