Dia 26, de não sei quantos...

Sarria - Gonzar: 31 km

6h20, o despertador tocou. Adiei mais 5 mn. E mais 5 mn. E mais 5 mn. E depois lembrei que ainda tinha de tirar a roupa do varal, arrumar a mochila, comer, etc. Então levantei. 7h37 eu estava na rua, tentando achar a seta amarelo, já que o lugar onde eu dormi não estava n'O Caminho. Fácil. Bora para a catedral. E pronto.

Sarria estava ainda completamente coberta, mas não chovia.

Uma coisa estranha: de repente, dezenas de caminhantes na frente, muito mais do que o habitual. Mas incomparavelmente mais que o habitual.

Ao trocar palavras com um casal do Canadá, elas me lembraram que Sarria era a primeira cidade do Caminho francês, a mais de 100 km de Santiago, distância mínima para obter a Compostela, documento que certifica que o peregrino fez pelo menos 100 km a pé ou a cavalo, ou 200 km de bicicleta. Acho não existe distinção entre bicicleta mecânica e bicicleta elétrica, o que me parece uma injustiça, mas…

Isso quer dizer que hoje, pelo menos até chegar a Portomarín, raramente houve silêncio. Foi uma procissão de pessoas em roupas e sapatos novos, falantes, fazendo todo o tipo de desvio para conhecer todas as igrejinhas, capelas, cemitérios, fotografando paisagens, flores, vacas, gatos, galinhas, sinais e absolutamente tudo mais que o Caminho tem a oferecer. Eu fiquei pelas paisagens. Quando a gente viu uma vaca ou um galo, é o suficiente.

Algumas vezes, eu tinha a sorte de ficar longe do grupo da frente.

Aqui é apenas um detalhe: no mei dia a dia, muitas vezes olho para o relógio e são 12h34. Aqui, eu olhei para o relógio e eu caminhava ao ritmo de 12 minutos e 34 segundos por km.

E depois de uns 14 km de Sarria, eu me adiantei e bebi uma cerveja gelada, por faltar 100 km para chegar a Santiago.

Na realidade, o lugar oficial dos "100 km até Santiago" estava uns 700 metros na frente. Mas não tinha nenhum bar, então, dane-se!

Uns 8 km na frente, aparecia Portomarín. E ao chegar perto da cidade, começou um desfile de automóveis antigos, muitas vezes dirigidos por pessoas da mesma idade.

Depois do desfile, Portomarín apareceu, no fundo.

Claro que tinha que ter uma última descida íngreme, para chegar na cidade.

Da outra vez, não chegamos a parar aqui. De bicicleta, 23 km é pouca distância. A pé, mereceu uma pausa para almoçar e decidir se ficava aqui ou seguia mais um pouco.

Almocei num restaurante na frente da praça e perguntei se havia camas disponíveis na cidade. O "não" foi enfático e contundente. Então, durante o almoço eu pesquisei o que tinha pela frente e se eu conseguiria chegar. Até 10 km, daria. Liguei para um albergue em Gonzar, uns 7 km na frente, e eles aceitaram a reserva. Terminei de almoçar e voltei para a estrada.

Do outro lado desta ponte, havia duas setas para Santiago: uma "caminho normal" e uma "caminho alternativo". Fui pelo normal durante um tempinho, até me dar conta que, não só estava sozinho nessa direção, como tinha gente voltando. Perguntei para um deles e me explicaram, putos, que a sinalização estava sendo mudada para um "novo" caminho normal e que o que estava marcado "alternativo" era o caminho normal. O novo caminho está sendo criado por razões econômicas: mais albergues, restaurantes etc, nesse caminho. Voltei para o caminho antigo e, felizmente, me levou ao meu destino sem problemas.

Além de bonito, eu estava sozinho o tempo inteiro. Acho que todos os novos caminhantes ficaram em Portomarín.

E aqui estou, já na cama. Faltam 83 km para Santiago.

Paz!

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