Dia 13, de não sei quantos...

Burgos - Hontanas: 32,8 km

A catedral é impressionante, mas a visita ficará para outra oportunidade. Tomamos café juntos e depois, pé no chão. Eu queria tentar fazer 4 etapas "normais" em 3 dias, para poder ganhar o dia que me falta para poder chegar a Santiago a tempo de ir para Madrid apanhar o voo para Guarulhos. Vamos ver se dá. 

Tudo muito cheio de história, como esta saída da cidade, por portas que devem datar de mil trezentos e troca os passos.

Depois de uns 30 mn no automático - música nos ouvidos - finalmente aparece a bendita concha. Nas grandes cidades a sinalização é muito mais discreta, parece-me.

Não lembra o céu de Brasília?

Caminhar sozinho é um prazer, sobretudo quando consigo desligar de tudo. É quase uma experiência fira do corpo. Felizmente, tenho conseguido esses momentos. Mas é perigoso porque perco a atenção no caminho e, às vezes desvio um pouco.

Existem muitos espaços totalmente vazios de pessoas, e no entanto feito e muito bem mantido por pessoas. Às vezes dá a sensação de estar num cenário de cinema.

Esta foto me lembrou um lugar onde morei, em França, há décadas.

Depois, foram horas a fio de "nada". Acho que estou chegando na famosa meseta, onde são quilômetros de terra e zero sombra.

Hornillos del Camino, no fundo. O meu portunhol diz que Hornillo é forninho e faz sentido. Cheguei perto das 13h, calor desgraçado, quase tudo fechado "porque era segunda feira". Coloco as aspas porque o mais tenho visto são cidades e aldeias fechadas. Ainda não entendi ou me adaptei ao tempo das coisas em Espanha.

Na entrada de Hornillos havia um grupo de jovens comendo sanduíches na frente do que parecia ser uma pequena mercearia. Continuei pela rua principal, em busca de algum restaurante ou albergue que servisse comida e, depois de umas centenas de metros, eu estava na outra ponta, saindo da aldeia. Tudo fechado. Voltei para trás, pés em chamas, resignado com a ideia do almoço sanduíche. Felizmente, pouco de chegarbna mercearia, um albergue escondido servia almoço!

Tenho visto muito mais pessoas mais velhas (60+) do que mais novas (30-). Mas ainda assim, muito mais jovens do que entre 40 e 60. E quando conheci, eram histórias de desemprego ou entre empregos, sabático, burnt-out etc.

Acho que já fiz mais de 300 km. As medidas de distância para Santiago são muito pouco exatas. Passo na frente de um sinal que diz que faltam 480 km e 10 km adiante aparece outro que diz que faltam 483 km. Aqui está um…whatever.

E cheguei a Hontanas.

Felizmente o primeiro albergue tinha vagas. Tudo muito novo ou bem cuidado, beliches com espaço, varanda com sol, tinha até um SPA no subsolo, com sauna, piscina gelada etc. Não usei. No lugar disso, depois de toda a logística habitual de instalação no albergue - fazer cama, tomar banho, cuidar da roupa suja, cuidar dos pés, massagem nas pernas, etc - fui até à igreja, onde umas irmãs de caridade estavam oferecendo massagens gratuitas nos pés. E foi a melhor coisa que fiz, antes de jantar.

Conheci a irmã Elisabeth, originária do Benin, 1a pessoa africana que encontrei no Caminho. Ela preferiu não tirar foto, quando pedi. Falamos uns 20 mn, o tempo da massagem, sobre como ela chegou no Caminho, vinda de Madrid, onde mora num convento. A congregação dela faz esse trabalho voluntário ao longo do Caminho todos os anos, durante o verão. Este ano vieram mais cedo, porque foram avisadas que os peregrinos começaram a chegar em abril. Fazem massagens, missas, cantam e dançam no fim do dia. E mais uma vez vi-me impressionado pela capacidade de abnegação e altruísmo delas.

Foi uma linda forma de terminar o dia. Saí da praça da igreja, jantei rapidamente num bar e voltei para o albergue.

Paz!

Comentários

  1. Paz, serenidade e bom descanso. Keep walking. Buen Camiño.

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