Dia 16, de não sei quantos...

Carrión de los Condes - San Nicolás del Real Camino: 31 km

Às 5 da manhã já tínhamos uns animais acordados e barulhentos. Um dos peregrinos até tentou um valente "can you turn your phone off!", mas já era tarde. O movimento de manada estava lançado e só foi aumentando. Acho que as pessoas foram pensando "já estou acordado, mesmo…" e foram se preparando para andar. Às 6h eu me juntei ao grupo e me levantei e iniciei o ritual de saída. Às 6h45 eu estava na rua e procurava algum lugar para comer alguma coisa  antes de começar a andar. Felizmente, encontrei um café na saída da cidade. Uma tortilla gordurosa e um suco de laranja mais tarde, eu estava no Caminho. Eram 7h15.

Próxima cidade: Quintanilla de la Cueza!

Hoje, passei para o outro lado da caminhada, supostamente. 6 km depois de Carrión, eu estava exatamente no meio dos teóricos 805 km de distância entre Saint Jean e Santiago. Pelo que entendi, existe muita muita confusão e dúvidas sobre essa distância e onde fica o meio, então eu decidi que este era o momento em que eu passava a estar mais perto do destino, do que do começo.

Os 17 km anunciados ali em cima não passam por nenhuma cidade, aldeia, igreja ou castelo. Então é importante estar bem preparado, com líquidos e comidas. Ainda assim, cruzei um bar/café ambulante, no meio do nada.

Aparentemente, cavalos ou bois também visitam o bar. Depois disso, longa linha reta até à primeira aldeia.

Quintanilla em vista, finalmente.

E logo antes de entrar na aldeia, do lado direito, esta…construção, que parece um misto de cemitério com torre de tv e lugar de armazenar feno.

Parada rápida em Quintanilla que também é Calzadilla (ou eu e um montão de gente estávamos no lugar errado) para um suco de laranja, sanduíche de tortilla (é o que tinha), banana, no bar/mercearia da aldeia e segui. Encontrei 2 franceses que jantaram no mesmo restaurante que eu, em Carrión. Eles ia fazer uns 40 km hoje. Coragem pra eles.

Depois de Quintanilla/Calzadilla, rumo a Ledigos, 6 km na frente. 

O sol castelhano, mesmo na primavera, é tenso. Acho que era meio-dia quando cheguei em Ledigos. 3 km na frente estava Terradillos de los Templarios, onde eu esperava almoçar e decidir de ficava por lá ou continuava mais um pouco.

Confesso que, nesse momento, eu estava tão entusiasmado quanto o peregrino desse mural. 3 km pode parecer pouco - uns 45 minutos - mas a minha experiência diz que, independentemente da distância, os últimos 2 km são sempre horrorosos. Por sorte, encontrei o Adam, um húngaro erradicado na Suíça. Já o tinha cruzado algumas vezes, desde aquela subida depois de Castrojeriz, mas nunca tínhamos conversado. Ele também estava no albergue das irmãs, em Carrión. Então fizémo-nos companhia durante esse 3 km, falando sobre os "honestos e desonestos" dos países que conhecemos. Segundo ele, na Suíça, deve ter 1% de desonestos e na Hungria 20%. Contei-lhe como já tinha escutado histórias parecidas em alguns outros países, mas que não poderia opinar sobre a Suíça, já que nunca tinha tido o prazer de morar lá. Também falamos sobre sonegação fiscal, se era causa ou efeito. Conversa boa.

Parei num albergue em Terradillos e ele decidiu continuar mais um pouco. Aproveitei a pausa do almoço - bocadillo e cerveja gelada - para falar com a família, é decidi seguir mais um pouco.

Moratinos: o nome me pareceu familiar e lembrei que era onde os franceses queriam chegar. Passei pelo albergue, mas preferi continuar, não sem antes abastecer de água e ver como a pracinha da aldeia estava bonita, com bandeiras de vários países, bordadas à mão. 

Segui em direção a San Nicolás del Real Camino, 2,6 km adiante. Quando cheguei à San Nicolás, até pensei em ir até Sahagún (+7 km), mas felizmente encontrei um albergue que parecia aconchegante e parei.

Banho, lava roupa, massagem nos pés, cerveja ao sol e… encontrei a Ingrid de novo. Ela não parecia bem. Eu achava que, no ritmo dela, ela já estaria em León, mas aparentemente adoeceu e parou neste albergue. Acho que o Caminho se encerra aqui, para ela. Ela vai pegar um taxi até Sahagún e de lá, um ônibus para León.

O jantar foi surreal, com 3 alemães, 2 mulheres que caminhavam juntas e um ciclista que está mandando ver 90 a 120 km por dia. Digo surreal porque a alemã mais velha está no seu 5° ou 6° Caminho e era mucho loca. Quando cheguei ela já estava no vinho (15h)  e assim continuou até depois do jantar. Não consigo explicar aqui a figura, mas rimos um bocado, até - e talvez sobretudo - por muitas vezes ela falava comigo em alemão e ficava puta porque eu não entendia. Bem legal. 

E assim foi meu dia. Estou quase em León. Muita saudade de casa.

Paz!

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