Dia 20, de não sei quantos...
San Martín del Camino - Astorga: 25,2 km
7h20, pé na estrada. Hoje, o ponto mais interessante do Caminho, será Hospital de Orbigo, sem dúvida. Até lá, passamos pela ultimas paisagens de Castilla y León. Pela frente me esperam mais montanhas, do mesmo calibre que os pirineus. Mas não vamos antecipar a dor, certo?
Adoro essas grandes linhas retas e vazias, que encontramos de vez em quando.
Ao ver essa torre, eu me lembrei de ter passado aqui de bicicleta: Puente de Orbigo, logo antes de Hospital de Orbigo.
Que lugar que parece ter parado no tempo. A ponte é antiquíssima e, do lado esquerdo, ainda acontecem reconstituições dos torneios e outras brincadeiras letais para agradar o povo.
Lembram aquelas coisas que a gente vê em filmes, em que dois cavaleiros arrancam com lanças de um lado e do outro e, na versão "civilizada", tentam se derrubar dos cavalos? Aí está. Só que eu acho que a versão normal da brincadeira era para jorrar sangue e se terminar com machadadas na cabeça. Hollywood romantizou demais esses jogos saudáveis para escravos e lutadores. Não me parece ser inocente, a cidade se chamar Hospital, né?
Fora isso, tudo muito bonito e conservados, tal como eu me lembrava.
Depois de Hospital de Orbigo, voltamos para o campo, com uma variante de sobe e desce, que muitos de nós achamos que é treino para O Cebreiro.
Pausa matinal para um suco de laranja, e vambora!
E aqui, neste sobe e desce - eu estava na conversa com o casal japonês Hiroshi - encontrei a única outra representante do continente africano. Ela está aí na frente, mas nessa foto, eu ainda não sabia.
Aqui está Naeomi, do Quênia. A gente ficou tão feliz de se conhecer que foi como se fossemos dois amigos que não se viam há anos. Algumas das pessoas não entenderam a felicidade, mas felizmente, outras entenderam. Não faltam franceses encontrando outros franceses, belgas encontrando belgas, italianos, croatas, coreanos, japoneses, bolivianos, etc. Mas a Naeomi confirmou que só tinha encontrado um casal de sul-africanos brancos, que ainda por cima tinha feito questão de se identificar como sul-africanos e não apenas africanos. E ela dizia, não tem nenhum problema em me identificar com a Mama Africa. Foi emocionante. Ela disse que mora na Austrália e que, depois de chegar a Santiago, vai para o Quênia passar 6 meses, para estar com a família, algo que ela faz de 2 em 2 anos. Estava feliz porque a pandemia tinha possibilitado o teletrabalho e só assim ela poderia fazer as viagens que fazia. E continuamos a caminhada…
Uns momentos em terreno plano…
Outros momentos descendo… e descer dói muito mais que subir. O pé fica esfregando no sapato, receita linda para bolhas…
Subir é melhor, sobretudo depois de comprar os bastões. É tipo um turbo, 4 patas!
No topo da subida, um pequeno oásis mantido gratuitamente por voluntários, com água, fruta fresca, sombra, cadeiras e sofás improvisados.
Eles aceitam doações, claro. A melancia estava fantástica, depois do esforço, e foi uma ótima pausa antes da reta final até Astorga.
E finalmente avistamos Astorga!
Só que… avistar é uma coisa. Chegar, é outra. E parece que quando avistamos, o corpo pensa "chegamos". E ele está vem enganado, porque aquilo ali no fundo ainda está a 4 km de distância.
E tem sol, e tem pouca sombra. Esse casal me fez rir: ele está na frente, com o que eles chamam de day-pack (o estrito necessário para o trecho do dia) e ela vai com a mochila de 10k, bufando pelas orelhas, como eu.
Aí, logo quando estamos perto do destino, o pessoal coloca mais coisas para subir e descer, caso não tenha tido suficiente, no caminho. E faltam 274 km para chegar a Santiago!
E uma última subida para chegar na cidade, claro!
Da outra vez que passei aqui, não lembro de ter visto o castelo feito pelo Gaudí, nem a catedral. Então aqui vai.
Definitivamente eu não chamaria Gaudí para desenhar a minha casa, mas… "eram outros tempos", como se diz, né? E aqui estou eu imaginando que, se eu tivesse vivido naquela época, eu teria dinheiro para pedir proposta para Gaudí. Bom demais!
Feitas as visitas, jantei e voltei para o quarto, tentar resolver uma bolha no calcanhar direito. Comprei outro par de meias, para ver se ajuda. Vamos ver como se comporta o pé, amanhã.
Fui.
Paz!
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