Pegar, largar, ficar, namorar... um universo de possibilidades! (1)

Pois é. Isto vai ter de ir por partes porque o assunto é denso e vital.

Sábado passado “caí na noite”. Vou vos contar. Isto podia se chamar de “deambulações de um quase quarentão, tímido, separado, nunca teve jeito nem paciência para a conquista e ainda menos para essa selva social chamada “a noite” e a sua respectiva fauna. Mas ok, é sábado, o filho foi para a casa da mãe, não me apetecia ficar em casa para ver a 21ª reposição do mesmo episódio de Friends, então...

Havia umas semanas que um colega de trabalho me tinha avisado que a banda dele ia tocar no O’Rilley’s, um bar trendy de Brasília. Eu combinei que iria, muito embora tivesse a sensação à partida que as músicas que eles iam tocar não me iam dizer nada, já que na sua larga maioria seriam oriundas do rock brasileiro dos anos 80/90. Mas tudo bem, bóra lá. Lembrei-me de todas as outras vezes que me chamaram para sair e eu fui a contragosto e acabei por me divertir muito. Porque desta vez seria diferente? Liguei para um bom amigo – que vamos chamar de Luis, só para facilitar – para não aparecer lá sozinho. A outra vantagem de levar o Luis era o aprendizado, porque o jovem me contava que cada vez que ele sai, ele “pega” um menina/mulher/senhora/whatever.

Conhecem esse conceito de “pegar” ou “ficar”? Pois eu não conhecia... e na verdade acho que ainda não domino bem a filosofia da coisa. No início eu pensava que “pegar” ou “ficar” era só beijar – french kiss, claro - ou uma one night stand. Mas não...e sim ao mesmo tempo. Pelo que percebi, parece que pode variar substancialmente segundo as situações. Há uns anos atrás, num esforço para entender o conceito, cheguei até a perguntar inocentemente se quando eu “pegar” ou “ficar” se posso apalpar as mamas – pegar nos peitos, como dizem aqui. É o tipo de coisa que prefiro saber de antemão pois não gosto muito de bofetadas. E a resposta, através da gargalhada causada pela pergunta – que era e é genuína, repito – foi uma confusão de explicações. Na duvida então, não toca no peito...a menos que ela peça. E também pode ou não existir sexo. Ou namoro depois. Ninguém sabe, não há certezas.

Com isso em mãos (ou em mente) lá fui eu, decidido a observar como se faz, predisposto a aprender com uma pessoa que claramente sabe muito mais que eu sobre o assunto. Tenham em conta que sou um bicho anormalmente caseiro, bebo pouco ou nada, parei de fumar há uns anos, e quando era casado não prestava atenção para a fauna e os seus rituais porque quite frankly, I couldn’t care less.

Então, 21 horas, banho tomado, perfumado, barriga encolhida, carteira e celular no bolso, ‘bora. Fomos primeiro ter com dois amigos do Luis num show aberto no autódromo de Brasília. Quatro homens, algumas cervejas, imaginam a conversa. Eu ria até engasgar com as historias deles. Depois passamos pelo show, uma banda tocava Raul Seixas – ninguém gritou “toca Raul” – e pude observar o povo. Vi de tudo, casais enamorados, bêbados e bêbadas, mulheres vestidas como se estivessem no baile das debutantes, outras como se a roupa tivesse encolhido depois de vestir. Havia para todos os gostos. Depois de quase uma hora de espetáculo – no palco e fora dele – decidimos ir para o famoso bar. Quando chegamos lá a banda do meu amigo jê estava no palco. Passei pela frente do palco só para sinalizar a nossa chegada, passamos pelo bar para pegar uma bebida e posicionei-me para curtir o show. Não tinham passado 2 minutos desde a nossa chegada e Luis me diz que vai tentar “pegar” uma loirinha que passou por nós enquanto estávamos no bar. Eu pensei “que mundo impiedoso. É assim tão rápido? A minha chance de sobrevivência aqui é quase nula”. Uma vez passada a crise de pânico, respirei fundo e sorri com a possibilidade de observar a experiência sociológica in loco. Lá foi ele até ela, começar a conversa.
Parêntesis: juro que admiro isso, a capacidade de ir falar com uma total estranha, no meio de uma discoteca/bar. Aliás, pouco importa o lugar. Eu imagino sempre uma conversa sensacional do tipo: oi, sou David. Oi, sou (nome dela). Prazer em te conhecer. Tudo bem? Tudo, e tu? Também, tudo ok. (silencio incomodo no meio da barulheira do bar)... Boa banda, né? Sim, muito boa...ok, então...

Comentários

  1. Morri de rir!! De tudo, tudo mesmo.

    Do jeito que aprendeu o que é ficar. Well, não seria bem o termo correto "aprendeu" porque, não me falhe a memória, festas para tal finalidade são milenares. Digamos então, oficiliazou uma miscigenação cultural. Porque certamente os franceses "ficam" diferentemente ;-).

    Do jeito que, no auge de seus experientes 40 anos, se permitiu (e quis!) se jogar na esbórnia (o começo do texto dá essa nítida sensação de transgressão). A minha constatação na verdade é que idade não é um fator nesta equação, nem para homens, nem para mulheres. Quando se fala em aproveitar o tempo ocioso e solteiro, ahh meu amigo, todos temos 15 anos.

    Do jeito que descreveu a teatricalidade da puberdade emanando do suor de "Luiz", independentemente dele ter 15 ou o dobro. O mais interessante é sentir que no fundo, toda essa catarse (a preparação, a ida, o lugar, o alvo e o bote) é um vício dos mais prazerosos porque, fisiologicamente o corpo está à procura desta satisfação (da paquera às mãos no peito - quando não muito mais, objetivo real - diga-se de passagem) e psicologicamente é a certeza de que a solteirice é uma escolha.

    Cheguei no gancho que queria: ledo engano (que o "ficar" é sinônimo de "quem está sozinho é quem quer"). Nessa fauna, vale a lei do acasalamento da selva: leva o mais apresentável, com melhor lábia (e como você mesmo constatou), o mais rápido. Durante o dia, a lei do acasalamento deixa de valer porque ela por si só não basta. Quero ver segurar a peteca na conversa, no conhecimento, nos mesmos interesses, no "posso te ligar amanhã?".

    Você está muito mais para a luz do sol ;-))).

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  2. Pois é Fê, it ain't easy!

    Nem sei se o ritual é assim tão "cultural", entendes? Provavelmente que a diferença entre aqui e os franceses é a língua. Como eu nunca vivi mesmo esse universo, é tudo novo. E sobretudo não posso garantir que "lá fora" não é o mesmo filme. Como dizem, lá porque eu não vi a arvore cair na floresta não quer dizer que ela não tenha caído :D

    Aqui está a segunda parte: http://1canto.blogspot.com/2011/09/pegar-largar-ficar-namorar-um-universo_26.html

    Besos!

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