Sobre a queda do muro...

Não é meu hábito ver filmes de realizadores desconhecidos, e muito menos filmes portugueses (de Portugal ou do Brasil), alemães, espanhóis, etc. E até mesmo o cinema Francês sofre com esse meu preconceito. Eu sei. É um preconceito mesmo. É preconceito porque nas raríssimas vezes que o fiz saí da sala de cinema com a agradável sensação de ter descoberto mais um pouco do mundo que me rodeia. E consequentemente de mim mesmo. Foi assim quando vi O tempo dos ciganos e o Arizona Dream do Kusturica, foi assim quando descobri o fabuloso 21 gramas do Iñárritu (gostos não se discutem. Prefiro de longe o 21 gramas a qualquer um dos outros que ele fez, antes e depois...), o Cidade de Deus do Meirelles, o Labirinto do Fauno do Guillermo Del Toro, o Métisse de Kassovitz, até mesmo o Reservoir Dogs do Tarantino, quando ele ainda era desconhecido e antes da fama lhe subir à cabeça.

Há uns anos atrás fui ver o Das Leben der Anderen (A vida dos outros) de um realizador desconhecido chamado Florian Henckel von Donnersmarck. Aconselho a qualquer um a ir ver o filme. Vejam o trailer aqui em baixo.



O filme teve um efeito engraçado em mim porque acabou por contextualizar muitas coisas da nossa história atual que eu tinha tendência a colocar “lá longe”, desconexo do resto. Mas não foi assim. Esses eventos do filme não aconteceram em 1940 ou 1950 (para falar de datas contemporâneas aos nossos pais), mas sim nos anos 80. Enquanto o resto da Europa vivia a euforia dos anos 80 (que década mais idiota, mas isso será para outro post...), do outro lado da cortina acontecia isso. Eu me lembro perfeitamente do dia em que o muro caiu. Eu, como milhares de outras pessoas, assisti tudo em quase-direto na televisão francesa. 9 de novembro de 1989. O meu irmão completava 11 anos. Enquanto o muro caía, nós estávamos a jantar, longe de perceber claramente a importância desse evento. Da mesma forma não percebemos a importância das palavras Perestroika e Glasnost quando elas foram pronunciadas uns 4 anos antes, pelo recém eleito secretário geral do Partido Comunista na (ainda) URSS. Para pessoas vindas de ex-colônias portuguesas, onde Comunismo e Socialismo, e Cuba, e Moscovo eram palavras bem vindas e sinônimas de felicidade (sim, essa era a nossa percepção), saber de repente que havia milhões de pessoas a querer fugir da felicidade, era no mínimo, estranho e difícil de perceber.

Sem entrar no debate político, sem julgar quem estava certo ou errado, o filme trouxe-me muita nostalgia. Ver Berlim leste é como ver Havana, é como ver Bissau. É estranho mas é o efeito que essas cidades tem em mim. É ver a casa que já não é casa. É ver um brinquedo muito bonito logo antes de ser estragado. Pelo menos a ilusão de bonito...

Eu acredito que a aplicação do socialismo feita durante essas décadas foi muito errada. Da mesma forma que a aplicação da democracia o é hoje. Do capitalismo nem falo. Mas de vez em quando pergunto-me se a humanidade vai melhorando, estagnando ou piorando. Se falasse emotivamente sem duvida que diria que vai piorando. Nunca a vida de uma pessoa foi tão barata como hoje. Se avaliasse estatisticamente, poderia dizer que mesmo assim a qualidade de vida (no computo geral) vai melhorando. Por outro lado, quando vemos filmes como este somos obrigados a reconhecer que as coisas vão lentamente melhorando. Não sei. Parece lento demais de qualquer forma...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dia 1, de não sei quantos...

Dia 5, de não sei quantos...

Dia 3, de não sei quantos...