Memórias da chuva...(3)

Em França não me lembro ter alguma vez sentido vontade de ir tomar banho de chuva. Era aquela chuva fininha, educada, que cai durante horas com intensidade variável, suficiente para impedir qualquer atividade ao ar livre, mas não suficientemente forte para nos dar vontade de mergulhar nela. Ela não deixava de ter aquele cheiro característico – antes e depois, mistura de terra molhada, humidade, mar – sim, cheiro a peixe. Acho que foi a primeira vez que eu tinha associado uma coisa à outra. Lembro –me que eu adorava jogar tênis nas quadras cobertas do clube, com as portas laterais suficientemente abertas para deixar passar uma aragem revigorante durante o jogo. Acho que devo ter jogado o meu melhor tênis nessas circunstâncias. Momentos mágicos!

Quando voltei para morar em Lisboa, tinha esperança que a chuva fosse mais africana, pela distância. Mas não foi assim. A chuva lisboeta era a mesma chuva francesa, miúda, insistente, insidiosa. Ainda por cima como quase sempre moramos em prédios mais antigos, as chuvas invernais quase sempre eram sinônimo de frio dentro de casa. Banho de chuva? Só se puder embrulhar uma pneumonia, para acompanhar! Mas, mais uma vez lembro-me desses momentos com carinho. E, como nesta aquarela de Real Bordalo, gosto muito do brilho e reflexos da cidade depois da chuva.

Uma vez choveu quando estávamos com o Milan num parque perto de casa. Daquelas chuvas repentinas, pela qual não damos dois centavos, sabem? Pois bem, em menos de um minuto ela caiu torrencial acompanhada de ventos e arvores que ameaçavam cair. Saímos na correria para chegar a casa, pai e filho às gargalhadas, ele no meu colo para podermos correr mais depressa. A meio do caminho dei-me conta que estávamos em pleno verão e que a chuva era morna, tropical, forte, como na guiné. E diminuí o passo. E assim dei ao meu filho o seu primeiro – e, talvez único – banho de chuva. Ele provavelmente não se lembra desse momento mas foi divertido. Chegamos a casa encharcados, tiramos a roupa, tomamos um banho, vestimo-nos e fomos para a sala ver desenhos animados :)

ps: Dizem que a chuva já chegou a Brasília. Se assim for, ela anda a fugir de mim!

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