Uma viagem e tanto: Parte 2 | Ahh, aeroportos...



E chega quarta-feira, véspera do meu encontro com o Roger “The GOAT” Federer. Oh boy! Deixo tudo pronto, passaporte, ingresso e voucher, passagens, dinheiro, comprovantes de pagamento do hotel e do carro, carrego máquina fotográfica e celular, fones para viagem, roupa, etc. Tudo check, check, check. Deitei-me, sabendo de antemão que não ia pregar o olho. Por coincidência, meu irmão ia para Chicago a trabalho no mesmo horário, então, decidimos dividir o Uber. Embora o nosso destino fosse o mesmo, as companhias aéreas eram diferentes e o terminais também.


5 da matina de quinta-feira, 20 de agosto. Despertador toca. Levantamo-nos no automático. Veste, lava cara, escova dentes, sai de casa, pega carro. 30 min mais tarde, estamos em LaGuardia. Ele fica no terminal doméstico da Delta (parece quintal dos aeroportos. Where planes go to die) e eu sigo para o meu. 10 min mais tarde, estou lá. Passo pela segurança neurótica e sigo para a minha porta de embarque, tudo dentro do horário, mas o avião ainda não chegou. Normal, penso, ao olhar o ar aparentemente tranquilo de todo o mundo. A quem se queixa que os aeroportos do Brasil agora parecem rodoviárias, deveriam visitar o LaGuardia. Hoje em dia, o check-in já é sem sequer falar com seres humanos. Chega, passa o celular, joga a mala no tapete, sorri para a câmera e segue para tirar os sapatos na frente dos neuróticos.

Como tinha fome, aproveitei para comer um iogurte com cereais que tinha a bagatela de 486 calorias. Sim, existe e é muito bom. Espesso. Cremoso. E esperei o avião. Lembra que eu tinha de pegar uma correspondência em Chicago, para Cincinnati? Ok. 6:30 e nada do bendito. 6:45 e eu começo a ficar tenso. Esse voo ia chegar a Chicago às 8:22 e o que me levaria para Cincinnati ia sair às 9:13. O uso do condicional já deixa entender que a coisa não correu como prevista, não é? Mas vamos com calma, que eu quero que vivam a história toda. 7:00 e nada do avião. 7:10 e nada. Dirijo-me ao balcão e explico a situação. A senhora, muito eficiente, me diz que não há problema, ela já me colocou no voo seguinte de Chicago para Cincy. Esse voo ia sair por volta das 11 e eu chegaria por volta das 13:30, algo assim. Explico de novo a situação, planos de longa data, sessão da manhã, ingresso, meu filho que ficou em casa sozinho para eu fazer essa viagem, blá, blá, e que só me interessa chegar a Cincinnati. Ela olha a tela dela e me diz que há um voo da United que sai de Newark às 9:29. Eram quase 7:20 quando ela me diz isso. Entretanto o avião chega e vai sair às 8. Pergunto como e em quanto tempo eu chego a Newark. Ela diz-me que, eles chamam um carro e que leva até 1h20, máximo. Esse voo de Newark ia chegar a Cincy por volta das 11. Perfeito. Aceito a troca que ela faz correndo. Chama o carro e me diz que o carro estará na porta em 5 min. Pego as minhas coisas e saio do aeroporto. 7:30, estou em pé na frente de LaGuardia, à espera do carro para Newark, que está do outro lado da cidade. Fácil. Com nada menos do que Manhattan no caminho. Só. Em horário de ponta. Tran-qui-lér-ri-mo.

Quando o carro começa por atrasar 10 minutos, eu começo a me perguntar se estou no lugar certo. Aos 20 minutos de atraso, ligo para a companhia do carro, que me diz que em 5 minutos o carro estaria na minha frente. Ele ficou preso no transito mais do que previsto. Lindo. 5 minutos depois, de fato, o carro chega, mas invés de eu entrar, ele se confundir em desculpas, carregar a minha mala e ele sair, deixando marcas de pneus no chão, o bacano procura calmamente por outras pessoas. Aparentemente havia mais 2 pessoas para o mesmo destino. Tudo bem. Lá descobre as pessoas, 2 jovens que iam para Dallas, e saímos. Umas 8:05, por aí. Apresentações feitas, troca de amenidades, conto que tenho de estar no outro aeroporto às 9:20 e um dos jovens responde sarcasticamente well, that sucks! Isto vai bem. Ligo o Waze para ver o melhor caminho e lá vamos nós por todos os outros caminhos menos o que o Waze teimava em me indicar como sendo o melhor. O motorista dizia para eu ficar tranquilo porque ele conhecia bem a cidade. Olha, só sei que, depois de várias curvas, contracurvas, vias expressas, etc, eram umas 9 horas quando conseguimos sair do outro lado de Manhattan.

Logo quando eu recupero esperança – da saída Manhattan até o aeroporto, íamos no sentido contrário do trânsito e o Waze indicava uns 12 minutos – o motorista decide que ainda não tive a dose certa de emoções antes das 9:30 da manhã. Ele pára num posto de gasolina. Estranho penso eu. Olho para o painel do carro e o tanque parece quase cheio. Ele simplesmente desliga e sai do carro. Assim, sem dar tempo de fazer uma única pergunta. Volta uns intermináveis 4 minutos depois, com um sorriso de orelha a orelha, dizendo couldn’t hold much longer, I needed to pee. Sorry guys! E eu penso really?? Podia ter mijado no carro, for all I care!! Se eu perder esse voo, não sei o que faço contigo (esta é a versão civilizada do que eu pensei. A versão menos cívica envolvia a família e animais de estimação, alguns utensílios e fósforos. A raiva nos transforma. Ainda mais dentro de um carro). Enfim. O que sei é que eram 9:25 quando chegamos a Newark e eu saí do carro.

Corri que nem um desalmado até os neuróticos, outra vez tirei sapato, blá, blá, blá. E a mulher da segurança me dizia que já era tarde demais, que eu já tinha perdido o voo. Devo ter lançado um olhar tão, digamos, expressivo, que ela saiu da minha frente e eu corri até a minha porta.

Ainda bem.

Se não tivesse corrido, não teria notado o quanto é bonita a manobra de desligar a rampa de acesso ao avião, do avião propriamente dito. E vi essa manobra sendo feita com o “meu” avião. Aquele que ia direto para Cincinnati. Sem escalas. E que ia me fazer chegar a tempo da sessão da manhã. Foi lindo. Cheguei na frente da porta tão decepcionado que larguei todas as minhas coisas no chão, como criança que faz birra. Literalmente. E andei em círculos pelo saguão, bufando que nem um touro enfurecido. Quando o oxigênio voltou a chegar ao cérebro, dirigi-me ao balcão para tentar entender quais eram as opções. De novo expliquei a situação, plano de longa data, sonho de infância, família pobre ajudou a pagar a viagem, blá, blá, blá. E chegou o veredito: voo direto para Cincy, saindo de Newark às 15h. Isso mesmo. Isso mesmo. Mais de 5 horas mais tarde. Esse voo chegaria ao destino por volta das 17h. Nesse momento eu já falava com a voz tremula de uma criança a quem acabaram de tirar o brinquedo. Retrospectivamente, acho que deve ter sido uma atuação emocionante.
Insisto um pouco nas outras possibilidades e ela, percebendo o meu desespero, tenta de tudo: aeroportos dos arredores, em outras companhias, voltar para LaGuardia, ir via Los Angeles, de submarino, tudo. A minha melhor opção era mesmo o voo das 15h. Resignado, aceito a recolocação, pego o talão de embarque e sento-me numa das confortabilíssimas cadeiras do hall de embarque, preparado para assistir ao tênis no celular. Por causa da confusão, eles me deram um voucher de alimentação de 7 doletas. Sete. Enquanto comia outro iogurte ultra calórico, acessei o site da companhia e escrevi 2 laudas de uma queixa poética, mais como meio de passar a minha raiva do que com esperança de alguma reação da empresa. Assim que enviei a queixa e recebi a confirmação no e-mail, ouvi uma voz feminina chamar “Deivid!”. Levantei o sobrolho e ignorei. “Deiviiid!”. Levanto a cabeça, olho ao redor e, do mesmo balcão onde eu tinha feito a remarcação, uma senhora me faz sinal. Yes you, sir! Would you please?. O primeiro pensamento que me veio foi “%$#&%! Eles são rápidos! Acabei de enviar o email!!”. Levanto-me e me dirijo ao balcão, onde ela me pergunta se eu ia no voo das 9:29 par Cincy. Confirmo com a cabeça. Aí, ela me informa que o voo está a voltar porque tem algum problema técnico e que, se eu quisesse, ela podia tentar me colocar nele, se ele ficar pouco tempo no chão. Aceito a oferta com o entusiasmo da criança a quem devolveram o brinquedo. A parte “avião com problemas técnicos” só foi gravada pelo cérebro para eu poder lembra agora. Não houve processamento da informação. Na altura, se me tivessem dito “olha, vais poder embarcar, mas tens de ir o tempo todo segurando a porta do avião porque ela não fecha bem”, eu teria aceite com a mesma rapidez.

Por volta das 10:20, o avião volta para o mesmo lugar. Recebo o grupo de pessoas furiosas com o atraso com o um sorriso estúpido na cara. A saída dele estava marcada para as 11:00. Consigo a remarcação e aguardo a chamada para entrar. Enquanto isso, não me toco que a família, que acompanha a saga via whatsapp, está preocupada com a avaria do avião. Tento acalmar a ansiedade deles com um enfático “ahh, não deve ser nada!”. 11h e pouco, embarcamos e, entre trocas de bagagens (pessoas que saíram desse voo para outros), passeio de avião pelo gigantesco aeroporto, são quase 12h quando decolamos.

E lá vou eu a caminho de Cincinnati. Com 2 horas de atraso.

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