Uma viagem e tanto: Parte 1 | Preparativos e primeiros dramas...

Voltei...

Só idiotas nunca mudam de opinião.

Closure? Nope. Not just yet, buddy boy! Voltei. Não faço ideia por quanto tempo, mas voltei. Sinto falta de escrever. Inexplicavelmente, eu , que leio tão pouco, sinto falta de escrever. Na verdade, sinto falta de criar alguma coisa. A música – no sentido criação e coisas novas – está parada há anos. Então...vamos escrever.

E tenho uma história para te contar. Uma daquelas que, se alguém conta, o mais provável é sair um comentário do tipo “ahhh, vai passear!” ou “!@&@#$¨#, David!!”. Mas garanto-te que cada letra, cada palavra, cada frase e situação desta história é a mais pura verdade. É uma história longa, então vou contar em vários capítulos. Tem paciência, garanto que vale a pena.

Agora vem comigo...

Parte 1: Preparativos e primeiros dramas...

No mês de maio deste ano, eu decidi realizar um sonho: ver jogar o maior tenista de todos os tempos, num contexto de competição, antes dele se retirar do circuito profissional e começar a ganhar a vida em exibições milionárias. Queria vê-lo jogar com garra e vontade.
Comecei então os preparativos da viagem. As opções eram US Open ou algum dos dois torneios de preparação para o US Open – Toronto ou Cincinnati. Depois de muita pesquisa, optei por Cincinnati. A relação preço dos ingressos/proximidade da quadra/avaliação do torneio etc me fez escolher Cincinnati. Usei as minhas milhas na compra de uma passagem ida/volta para NY – assim aproveitaria visitar o irmão que agora mora lá – e comecei a caça por passagens baratas de NY para Cincinnati, assim como ingressos para o torneio. Seria uma viagem de uns 10 dias, saindo numa sexta de noite e voltando num domingo.

O torneio era de 17 a 23 de agosto e os ingressos eram vendidos para duas sessões por dia. A primeira sessão – day session – era das 11h às 19h e a segunda – night session – das 19h até o fim do último jogo. Sabendo isso, fixei o objetivo de comprar ingresso para assistir a todos os jogos de oitavas de final. Era a minha melhor chance de ver o mestre fazendo magia, assim como outros 15 grandes jogadores. As oitavas iam acontecer na quinta-feira, 20 de agosto.

Com isso em mente, no começo de agosto consegui comprar na United Airlines, uma passagem barata NY/Cincinnati,  via Chicago. Barata por isso. O voo sairia de LaGuardia às 7 da matina e eu deveria chegar a Cincinnati por volta das 11h30. Tudo bem: tempo de desembarcar, pegar o carro alugado, estrada, almoço rápido, etc, eu estaria no torneio por volta das 13h/13h30. Apostei no fato que o Federer nunca seria escalado para jogar no primeiro horário. Esse era o plano. Assim que consegui a passagem, aluguei um carro e um quarto de hotel para a noite de quinta para sexta. Não estava com vontade de ir dormir na cadeira do aeroporto, mesmo que fossem 2 ou 3 horas, antes do voo de volta. E o voo de volta seria pelo mesmo caminho, saindo às 5 da manhã e chegando a LaGuardia por volta das 11 da manhã.

Feito isso, para completar o plano, só me restava o mais importante: comprar os ingressos. Único problema: no site oficial e na ticketmaster já estavam esgotados há meses. A minha única chance era comprar no eBay ou em clones do ticketmaster de que nunca tinha sequer ouvido falar. Como eu já frequentava o maior fórum online de praticantes de tênis, usei as dicas da comunidade para ajudar na compra. Quase comprei de outro usuário, mas um problema de comunicação me fez perder a oportunidade. Mas aproveitei as dicas e fui parar a um site chamado Stubhub, onde – depois de uma batalha homérica e de uma semana com a central de cartões do meu banco, CAIXA, - consegui destravar os meus cartões de crédito (os dois, VISA e Mastercard) e finalizar a compra. Comprei os ingressos de dois usuários diferentes. O ingresso para a day session era digital e pude fazer o download imediatamente. O da night session era físico e seria entregue na casa do meu irmão em Brooklyn, na semana anterior à minha chegada.

Então era a primeira semana de agosto e estava tudo quase 100% certo com a viagem. Apenas me faltava comprar alguns dólares e desbloquear os cartões de crédito para a viagem internacional. Note-se que tenho dois cartões, Visa e Master, porque numa viagem internacional anterior, o único cartão de crédito que eu tinha, tinha sido clonado e eu fiquei sem meio de movimentar qualquer dinheiro, já que o meu cartão de débito que eu tinha na época era nacional. Assim, liguei para a central telefônica e pedi o devido desbloqueio dos ditos cartões para compras presenciais e online em território estadunidense. Feito. E estava tudo pronto para a viagem.

Chega a bendita sexta-feira e viajo.

Fast forward.

Já em NY, na segunda-feira, vou comprar um chip local para usar para comunicar com a família. Entro na loja da T-Mobile, escolho o plano de comunicação e, no momento de pagar, népia. O cartão Visa deu “pagamento recusado”. Estranho, penso na hora. Tento o Mastercard com o mesmo resultado. Mau. Tento novamente e nada. Pago a compra em dinheiro e tento não pensar nisso para o resto do dia.

Ao chegar a casa, ligo para o número identificado no cartão como “número para ligar do estrangeiro” e deparo-me com uma central que me diz que lá é a central para empresas, que a central para pessoas é outra, mas que ela não pode transferir nem me sabe dizer qual é o número da outra. Ok. Pesquiso na internet e descubro outros números, ligo para todos eles e obtenho ou mensagens de números incorretos ou desativados. Ou ainda mais divertido, mensagens avisando que esses números não aceitam chamadas a cobrar. Bonito. Tento a ligação via central gratuita da Embratel com o mesmo sucesso. O que restava? Colocar o chip da minha operadora nacional de volta no celular e tentar falar com alguém, pagando custo de roaming. Dada a situação – no estrangeiro, sem nenhum outro meio de movimentar a minha conta ou gastar remotamente – pensei “vamos lá”. Com o chip nacional, consegui falar, depois de muito minutos de musiquinha, claro, com a central cartões CAIXA. Esta consegue me confirmar que os dois cartões estão bloqueados por razões de segurança e que só o setor de segurança pode desbloquear. O fantasma da clonagem de cartão da viagem anterior aparece logo. Peço para me transferirem para o bendito setor. Me respondem que não conseguem por causa de “problemas de sistema”.

Pausa.
Existem algumas explicações que têm o poder de encerrar conversas, já viram? Não há nada a fazer quando alguém te diz “estamos sem sistema/com problemas de sistema”. Qualquer argumento depois disso é uma perda de tempo inenarrável. É como quando vamos viajar, mas o avião está atrasado para chegar ou sair porque “estamos sem teto”. End of discussion. E fim de pausa.

Pergunto então para a pessoa, o que devo fazer nesta situação – no estrangeiro e sem meios de pagamento. Ela me responde que não pode ajudar, que posso ligar para a ouvidoria. Espetáculo. Eu insisto no surrealismo da situação até que, talvez por piedade – lembro que essa pessoa podia simplesmente desligar na minha cara, como muitos fizeram e fazem – ela me diz que pode confirmar as compras suspeitas comigo e passar para o setor de segurança, que resolveria em até 24h. Não sei porque a gente ainda acredita em prazos, mas enfim. Talvez porque prazo é esperança e esperança é a vida, sei lá. Concordo com a proposta, confirmo as compras e desligo feliz com a possibilidade de voltar a ser gente em até 24h. Entretanto, 45 minutos da minha vida, que poderia ter passado brincando com os meus sobrinhos ou enchendo o saco do meu irmão, se foram e nunca mais os vi. Gone with wind. Saudades.


A vida segue, passeando a belíssima cidade que é NY, comendo em tudo quanto é canto como se não existisse amanhã, visitando todos os pontos turísticos possíveis...aqui e ali, eu tentava pagar com os cartões e, zilch. Nada. Nicles batatóides. Zero. E o dinheiro vivo sumindo que nem manteiga na estrada da 5ª avenida, no verão nova-iorquino.

Chegando a casa, volto a ligar para a central – sim, troca de chip, paga roaming, o teatro todo. Mesmo filme: outra meia hora é gasta com música de elevador, atendentes trocando chamadas com a mesma destreza que eu queria ter na troca de bolas, quando jogo tênis, e não se consegue falar com esse olímpico setor de segurança por causa de problemas de sistema. Penso em chorar baba e ranho para ver se a carta “emoção exacerbada” tem algum efeito, mas depois decido não usar esse trunfo nesse momento. Simplesmente me contento com outra possibilidade do plástico poder comandar a vida em 24h.

Quanto drama...

Mas amanhã vai ficar melhor, vais ver.

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