Saudades...


 Sempre vivi a mudança com algum orgulho. O fato de ter mudado 3 ou 4 vezes de país, de cultura, de língua, sempre foi motivo de orgulho quando não foi de alguma altivez em relação ao mundo e aos que nele vivem. Mas isso tem um preço. Um preço que talvez eu pague com o tempo, à medida que vou ficando mais velho. Sempre tentei (e tento) não me apegar ao passado, não deixar que ele me impeça de crescer. Mas sou humano. E com o tempo cada vez mais tenho a sensação de que o “melhor” da minha vida já passou. O melhor tanto no sentido do melhor que eu tenho a dar, como do melhor que eu tenho a receber. Como dizia Lou Reed “it’s all downhill after the first kiss...”. E aí vem a tristeza. Parece uma luta sem sentido entre dois sentimentos antagônicos, ou para viver ainda melhores momentos, ou para ficar quieto e re-viver na memória os bons momentos que já passaram. A segunda opção acontece mais vezes do que eu quero, e a primeira opção, não consigo aplicar, por parecer forçada.

A melhor paixão já senti, o melhor filho já fiz, a melhor musica já compus, os melhores irmãos já tenho, o melhor concerto já o dei, a melhor foda já dei, a melhor droga já tomei, o melhor passeio já dei, a paz mais pacifica já senti, os melhores amigos já tive, o melhor trabalho já tive etc, etc... A palavra “melhor” aqui não é para ser entendida como comparativo com outras pessoas mas unicamente no sentido de “o melhor que me é reservado”.
Não consigo ver uma única imagem de Lisboa sem entrar nesse processo autista. Não consigo ouvir uma palavra com sotaque alfacinha sem de repente me sentir como um peixe fora de água. Mesmo falar com os amigos é custoso, mesmo quando eles me levam para lá no espaço de instantes. Sim, porque as nossas conversas são conversas de pessoas que estiveram juntas em algum var na véspera à noite. É essa a magia da amizade. E sinto falta do cheiro de casa. E casa é Lisboa. Também é Paris até certo ponto. Os (poucos) amigos que deixei lá, até hoje são amigos. Com vidas diferentes, certo, mas mesmo assim com pontos comuns, preocupações comuns. De certeza que é só um sentimento passageiro, devido a ainda não ter criado raízes aqui. Se fosse honesto comigo mesmo reconheceria que 1.001 vezes senti exatamente a mesma coisa quando morava em Algés, 1.001 vezes quis entrar de novo no avião/comboio/whatever e voltar para a segurança da minha rotina em Vernouillet (com todo o drama que ela carregava), Go Sport, os amigos etc. O tempo acabará certamente por anestesiar esses sentimentos, como anestesiou os outros. Não deixo de os sentir, mas pesam menos e não me impedem de andar... E agora? Tenho 39 anos e já estou na minha “mid-life crisis”? :D Attaboy! Dizem que existem pessoas que conseguem olhar para coisas antigas, habituais, com olhos novos, com aquele olhar de criança que descobre tudo pela primeira vez. Que inveja! Eu gostaria de ter esse dom, de fazer novo com o velho, de re-viver as emoções como novas...

Mas fica a porra da saudade...

  • De la maison...: de Chatou, Vernouillet, le T.C. des Landes, du Lycée Inter e la roulotte de Mario, d’Everyday Sunshine, de Poquelin et Le Soubise, du parc de St Germain, do R.E.R., de Trappes, de la neige, de l’odeur du froid, de la découverte du français avec Dennis et Sylvain (eh oui les gars…), de la mobylette de ma sœur, des bootes pas faites pour la neige qu’elle portait pour aller me reserver la table de ping-pong aux aurores (savais pas qu’elle m’aimait autant), du bus pour le lycée et les places réservées avec « les + cool », du ping-pong, de la cantine, de la cour de recrée, de la section portugaise et tous le profs et élèves, des italiens, les suédois, les espagnols, les angolais (oui, il y en avait), d’Alex, Veerle, Patoche, Elcira, Julia, Nuno, Vitor, Zé Caramelo, du resto Casino ou je faisais la vaisselle, de Xavier (Colonna et Sparks), de la boulangerie prés du R.E.R. à Chatou ou j’achetais un crissant au beurre délicieux, des courses de samedi avec ma mère (marché et Monoprix, en survet, siouplé, j’enrageais quand ma mère sortait en survet…), du retour à la maison ou je me tapais systématiquement de la brioche avec de oasis, des piqueniques sur l’ile (ou une ou deux fois au parc de Nanterre), des heures interminables au tennis des landes et dans les tournois (qu’est-ce que je jouais bien…), au club de Vernouillet ou on volait des heures de tennis avec mon petit frère (j’étais son entraineur… « frappe en avançant, tjrs »), les copains de GO Sport, les formations, les rigolades sans raison, Abdé, Karine, Claire, Greg, Dabo (purée Dabo!!), de Peter, de mes neveux que je ne vois qu’en photo, Montpellier, le rien-fouttisme, la ganja de grande qualité, les amis ivoiriens (j’ai retrouvé Romain, 15 ans plus tard), Nico, Kaali (un jour j’aurais une fille qui portera ce nom…), Steph (bah oui), Kristel (+ de mauvais moments que de bons, mais les bons ont été très bons…), Palavas-les-Flots, Toulouse, belle vie... j’arrête lá…
  • De casa...: da mudança para Lisboa de carro, da chegada ao Porto e a Nice com tranças até às ancas, da nossa Penthouse em Algés, dos ciganos, da Carpe Diem e das meninas da Carpe Diem, Tómix :), Rik, Ztp (da aventura seguinte de certeza que nos lembraremos), das colinas, de andar a pé, dos amigos daqui (no coração) que ficaram lá, da “família”, da Capitão Renato Batista, do campo Santana e os seus patos velhos e novos, da Almirante Reis e os seus chineses que não dizem uma única palavra em português, da marques Sá da bandeira, das melgas, dos mongas, da segurança que sentia no atelier, de , pela única vez na minha vida, me ter sentido em casa na casa de outras pessoas, dos tapadas, a aventura de ir morar para perto de vocês não se concretizou mas foi MUITO bom, dos ilídios, o nosso espelho :), dos primos da frente (que pena não conseguir ver as crianças crescerem juntas como tínhamos pensado...), dos nuttshell (foi durante um curo momento, a melhor banda do mundo!) e dos ensaios de terça à noite seguido da sopa, do Diogo (meu “irmão mais velho”), do Bruno (pois, continuo engasgado com esta amizade e como ela terminou. Espero que te encontres de novo, bro...), do trabalho, das viagens para Espanha e França armado em executivo de sucesso, dos projetos, das festas improvisadas, do Meco, das férias na costa azul, do porto e das francesinhas, do Blues Café, amigos do Terravista, dos pasteis de nata, do cheiro de Lisboa, do aeroporto, do restelo, da estrada para o Estoril à beira mar, do estúdio Watchflowers, das velhas salas de cinema, das novas salas de cinema, da Marques Sá da Bandeira (a melhor casa do mundo), da Mariana e das conversas que ainda não tivemos, do Monga e das conversas que podemos ainda ter, das crianças que já não são crianças e de quem gostaria de estar mais perto (que vcs queiram ou não, são nossos filhos tb...), do mar, do Rio, da vista do castelo, dos indianos/árabes/africanos/melting pot do intendente, do boguinhas (todos eles, o citroen, o pólo, o lancia, o alhambra), de projetos que não realizamos, de promessas que não cumprimos, de jantares que não fizemos, de passeios que ficaram para depois, de tudo isso e muito mais...

Que merda...

Quero o Tiago...

Comentários

  1. Olá David,
    gostei muito de ler o que escreveste, mas despertou em mim sentimentos contraditórios. por um lado orgulho e felicidade por fazer parte do vosso mundo, pelo que vivemos juntos e pelo que ainda iremos partilhar. porque continuo a acreditar que a vossa "viagem" não fica por aí. ao contrário de mim, que sou menos dada a aventuras e mais comodista e medrosa. no entanto, deixou-me também com uma saudade e uma tristeza pela distância e por tudo o que isso pressupõe. e que bem vistas as coisas não é forçosamente uma separação. é mesmo só isso uma distância, um oceano. de resto há a internet, os telefones e esperemos que mais viagens, que por enquanto são muito espaçadas no tempo. mas tudo o que vivemos estará sempre connosco e é o suficiente para nos mantermos ligados.

    beijos grandes aos 3, dos 4 tapadas

    ResponderExcluir
  2. Pois, ter saudades é mesmo um sentimento contraditório, não é? Esta mensagem ficou meses a ser escrita...até que ontem simplesmente caguei na forma e deixei as palavras sair. Muitas, mas muitas saudades vossas. Mesmo! E nao ver as crianças crescerem juntas...pfff

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Dia 29, de não sei quantos...

Dia 27, de 33!

Dia 26, de não sei quantos...