O preço da ausência...
Tenho uma irmã que mora em Paris e um irmão que mora em Nova Iorque. Com as suas respectivas famílias. Eu já morei em Bissau, Lisboa, Luanda, Paris, Montpellier e Brasília. Fora Bissau, já trabalhei em cada uma dessas cidades + Madrid. E tenho amigos queridos em algumas dessas cidades. Amigos daqueles para quem eu daria a vida se necessário.
Imagino os suspiros e exclamações. Quando me fazem a pergunta sobre de onde venho, conto essa versão rápida sem tentar entrar em muitos detalhes. E invariavelmente tenho direito a olhares fascinados. Não vou dizer que não foi bom, muito embora tenha sido a consequência de um "ir para onde o vento me leva" desorganizado. E esse aparente glamour tem um preço. Antes de escolherem esse caminho, é bom saber o preço. tudo tem um preço...
A minha irmã está doente. Do outro lado do mundo. Não posso fazer nada. Ou muito pouco. É uma frustração que vai até à dor. Não desejo isso a ninguém. Acho que que a última vez que me senti assim foi quando o meu filhote era bebé e estava doente. Ele chorava de dor e não havia nada que eu pudesse fazer fora dar os remédios, atenção e carinho, até passar. É o preço de estar longe dela. Gostaria de poder estar lá, ajudar com as coisas simples do dia a dia, dar mimo, conversar com ela, ouvir os medos, etc. Invés disso, estou a léguas de distância. Impotente. Ausente. E eu sei que ela precisa de mim, talvez como nunca precisou antes...é uma merda.
E o preço aumenta com as crianças. Não vi os meus sobrinhos crescer. Não vi os que moram em Paris e agora não vejo o que mora em Nova Iorque. A nossa realidade é ver-nos, quando muito, uma vez por ano. E nessa idade mais nova, quando a memória é de tão curto prazo, é como se tivéssemos de nos conhecer de novo a cada encontro. Apego-me a coisas tão inócuas como eles se lembrarem de mim, conseguirem dizer o meu nome, pequenas lapsos da minha existência na vida deles. Sim, porque eles existem na minha todos os dias quando passo pelas fotos que tenho em casa. E isso não chega. Está longe de chegar. Eu quero-os todos aqui comigo, onde quer que esse "aqui" seja. Os ingleses e/ou americanos dizem home is where the heart is. Bullshit. Home is where the close family is...
E o filho também paga o preço. E o pobre coitado não tem sequer escolha. O meu filho não tem hoje nenhum primo com quem brincar. Nenhum. E nenhum tio ou tia onde se abrigar quando os pais dele estiverem a ser idiotas. Ele não sabe o que é crescer com os primos por perto, como eu tive a sorte de ter. Sorte, o caralho. Essa é a situação normal, essa é a regra. Ele, infelizmente, vive a excepção.
Pois é. Esta verborreia saiu toda de uma vez. Apenas queria poder cuidar da minha irmãzinha. Só isso...
Imagino os suspiros e exclamações. Quando me fazem a pergunta sobre de onde venho, conto essa versão rápida sem tentar entrar em muitos detalhes. E invariavelmente tenho direito a olhares fascinados. Não vou dizer que não foi bom, muito embora tenha sido a consequência de um "ir para onde o vento me leva" desorganizado. E esse aparente glamour tem um preço. Antes de escolherem esse caminho, é bom saber o preço. tudo tem um preço...
A minha irmã está doente. Do outro lado do mundo. Não posso fazer nada. Ou muito pouco. É uma frustração que vai até à dor. Não desejo isso a ninguém. Acho que que a última vez que me senti assim foi quando o meu filhote era bebé e estava doente. Ele chorava de dor e não havia nada que eu pudesse fazer fora dar os remédios, atenção e carinho, até passar. É o preço de estar longe dela. Gostaria de poder estar lá, ajudar com as coisas simples do dia a dia, dar mimo, conversar com ela, ouvir os medos, etc. Invés disso, estou a léguas de distância. Impotente. Ausente. E eu sei que ela precisa de mim, talvez como nunca precisou antes...é uma merda.
E o preço aumenta com as crianças. Não vi os meus sobrinhos crescer. Não vi os que moram em Paris e agora não vejo o que mora em Nova Iorque. A nossa realidade é ver-nos, quando muito, uma vez por ano. E nessa idade mais nova, quando a memória é de tão curto prazo, é como se tivéssemos de nos conhecer de novo a cada encontro. Apego-me a coisas tão inócuas como eles se lembrarem de mim, conseguirem dizer o meu nome, pequenas lapsos da minha existência na vida deles. Sim, porque eles existem na minha todos os dias quando passo pelas fotos que tenho em casa. E isso não chega. Está longe de chegar. Eu quero-os todos aqui comigo, onde quer que esse "aqui" seja. Os ingleses e/ou americanos dizem home is where the heart is. Bullshit. Home is where the close family is...
E o filho também paga o preço. E o pobre coitado não tem sequer escolha. O meu filho não tem hoje nenhum primo com quem brincar. Nenhum. E nenhum tio ou tia onde se abrigar quando os pais dele estiverem a ser idiotas. Ele não sabe o que é crescer com os primos por perto, como eu tive a sorte de ter. Sorte, o caralho. Essa é a situação normal, essa é a regra. Ele, infelizmente, vive a excepção.
Pois é. Esta verborreia saiu toda de uma vez. Apenas queria poder cuidar da minha irmãzinha. Só isso...
Eu podia dizer:"Tudo vai dar certo","Ela vai ficar boa", como imagino q seus amigos estão dizendo com toda sinceridade. Mas eu sei que o que vc quer é estar com sua irmã, abraçá-la forte e não soltá-la nunca mais. Então, calo-me.
ResponderExcluir"vamos ouvir esse silêncio (...)
amplificado no amplificador
do estetoscópio do doutor
no lado esquerdo do peito esse tambor"
(Silêncio, de Arnaldo Antunes)
Obrigado M. pelas gentis palavras :)
ExcluirEstar junto da família é o nosso desejo, mas quando não é possível
ResponderExcluirpodemos sempre que puder lembrá-los do quanto amamos e, mesmo
distante estamos torcendo por sua recuperação. Ter a certeza que estamos
sendo amados, mesmo a distância, é um acalanto para nossas dores.
isla
É verdade Isla. Obrigado pelo comentário :)
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