Erasure e Amy...

Leiam tudo e entenderão a razão do título ridículo...
Hoje disseram-me (com entusiasmo) que Erasure vinha dar um show em Brasília. Sorri educadamente e respondi assim: que eles tivessem tido sucesso durante aquele tristemente patético momento artístico da humanidade chamado "anos 80" até consigo entender. Mas em 2011?...em pleno século 21??...30 anos depois????... na era da banda larga, das áicoisas e da Lady Gaga??? Depois disso vai ser o quê? Lollapalooza com Rick Astley, Kim Wilde e Bananarama? Bronski Beat e Dead or Alive também vão voltar e tocar juntos? Um duplo CD acústico e ao vivo de Enya, Vangelis e Jean Michel Jarre? Milli vanilli vão cantar e dançar de verdade? Pet Shop Boys...?!?! I rest my case, goddamnit....

Nem física quântica nem a religião organizada têm explicação para a sobrevivência da mediocridade... E olhem bem que esses dois têm explicação para muita coisa...

Algures aqui (link 1, link 2) neste canto eu já vomitei a minha alergia ao saudosismo. Juntem a isso o orgulho de ter sobrevivido aos anos 80. Sim, orgulho mesmo porque eu aguentei aquela porcaria toda com alguma dignidade (o que eu penso sobre "orgulho de..."). Não digo que tenha saído incólume (se tivesse não estaria aqui a escrever sobre o assunto, certo?). Mas por amor pelo que existe de mais valioso no planeta (escolham o que quiserem... as opiniões variam muito e eu não quero me zangar com ninguém), deixem essas bandas/artistas que, já nos anos 80 não sabiam cantar/compor/dançar/falar etc no abismo do esquecimento de onde nunca deveriam ter saído. Eu também sou otimista, mas garanto-vos que esse pessoal não é como vinho. A premissa do “retorno” deles é precisamente terem parado no tempo, não terem evoluído, se terem tornado amostras mumificadas da década mais vazia que a humanidade conheceu até agora.

Porque tanta raiva? Porque a vida é profundamente injusta. Bill Hicks dizia:
did you notice that we live in a world where good men are murdered while medíocre hacks thrive? Ever noticed that? Jesus - murdered; John and Bobby Kennedy – murdeded; Martin Luther King - murdered; Malcolm X - murdered; Gandhi - murdered; John Lennon - murdered; Reagan... wounded.”
É. Eu gostaria de completar essa frase com algo como
"Artistas medíocres dos anos 80 ainda estão a ganhar dinheiro como tournées triunfais enquanto talentos como Jimi Hendrix, Brian Jones, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain, Robert Johnson...e agora Amy Whinehouse...isso para falar só do Clube dos 27. Michael, Elvis, Zappa, Stevie Ray, Bon Scott etc são alguns dos outros nomes..."
Confesso que nunca partilhei o fascínio que as pessoas sentiam pela personalidade dela, aquela coisa autodestrutiva, havia algo de doentio nela. E sempre achei ridícula toda a estética dela, aquele retro todo, aquele penteado ridículo...enfim, gostos...

Mas uma coisa resta verdadeira e irrefutável: o talento, a voz. Eu me lembro da primeira vez que ouvi a voz dela. Como muitos, já era o segundo CD. A musica Tears Dry On Their Own passava na TV e eu estava no quarto. Lembro que o som era tão bom que eu parei tudo para ir ver quem era. A voz parecia me tinha parecido uma mistura estranha de Ella com Aretha (sem as vocalizações), o som parecia antigo e, no entanto bem limpo e atual, a nostalgia da melodia batia diretamente no estomago...enfim. Anotei o nome dela e sentei na frente do computador para saber mais. E descobri essa maravilha chamada Back to Black. Até o nome é bonito. E assim descobri todas as perolas que compõem o álbum. E também descobri versões alternativas das músicas. Por exemplo a versão voz e violão do Love is Losing Game é absolutamente arrebatadora. Aliás, essa é a minha musica preferida dela. Esta outra versão é só ela e um fender Rhodes. Nasty and beautiful! E ela era genuína. Que a gente gostasse ou não, ninguém podia apontar um dedo acusador e chamar de falsa. Eu tinha medo que ela morresse. Ao mesmo tempo eu tentava me convencer que isso era coisa do passado, essa história de morrer jovem. Mas sempre apreensivo. E infelizmente a morte dela não chegou como uma completa surpresa. E como aconteceu com os outros, mesmo com a previsibilidade do acontecimento, nada nunca nos prepara para o silêncio.

Há uns meses atrás me chegou a notícia da morte do Mike Starr, o primeiro baixista dos Alice In Chains. Overdose. E na lista de email surgiu um usuário que dizia que não sentia pena pela morte, porque tinha sido de overdose, porque os drogados escolhem a vida (e, em ultima análise, a morte) que levam, etc. O mesmo tipo de comentários já apareceu aqui e ali, sobre a morte da Amy. E a minha resposta é a mesma. Compreendo – e até concordo parcialmente com o raciocínio. Mas eu sinto sempre pena quando um talento morre. Sou/somos seres egoístas, Jimi dizia isso. Nós não amamos as pessoas, amamos o bem que elas nos fazem. No meu caso, pessoas com imenso talento como alguns dos supracitados me fazem um bem incalculável. Presenciar talento me dá vontade de viver para ver mais. Fico deprimido com a morte deles, seja qual for a razão.

Não acredito em vida depois da morte. Mas se por alguma razão eu estiver enganado...imaginem a qualidade do som que passa por lá..
Amy, yeah we knew you were no good...

Comentários

  1. Tu m'étonnes qu'elle avait de la voix...
    Dja

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  2. Também sou fã de back to black mas convenhamos o vocalista tinha voz de barata engasgada com uma bola de poeira na goela, e Amy? Amy???? Pelo amor de Deus uma psicótica excêntrica chapada de LSD que cantava mal pra diabo, até a Pity com sua voz desafinadamente sem potência e irritante cantava menos pior que Amy Winehouse. E citar Jimmy Hendrix? O Cara era um chapado que esfregava a guitarra nos dentes e todo mundo acreditava que aquilo era arte que era música, sem contar na coitada da guitarra que no fim dos shows terminava aos pedaços. O fabricante deve ter ficado muito feliz em assistir o triste fim do instrumento dele. Falas mal de Erasure? Depeche Mode? Pet Shop Boys? Eles são ícones do electronic pop synthesizer do electro rock. Não desmerecendo Elvis Presley que apesar de um drogado bêbado, conseguiu corpor Love Me Tender e Little Sister, também como A little less conversation do qual sou fã. Quer falar de música ruim? Fala dessas porcarias de sertanejo universitário, Maiara e Maraisa, Naiara Azevedo, e etc etc e etc até os europeus tem melhor gosto musical que o Brasil. Sou fã da cultura musical do meu país nos tempos que ouvia o toca fitas do meu pai tocar o verdadeiro sertanejo de Tônico e Tinoco, Rolando Boldrin, Almir Sater, Raul Seixas e não essas porcarias de ''sertanejo universitário. Gosto até de Zeca Pagodinho, sou capas de ouvir até Jerry Adriane, Roupa Nova, mas não fala mal de Erasure nem de Depeche Mode tampouco critique Pet Shop Boys, ou Annie Lenox ou Tears for Fear, Shout, Take On Me, A Little Respect, Go West, Enjoy The Silence, foram os inos da minha geração, enquanto Caetano cantava bosta nova pra universitário minha geração se agitava curtindo Cindy Louper, Roxette, Double You, Nitzerebb, A-ha, Alphaville, Midnight Oil, R.E.M. Quer falar de música ruim fala de Re Start, NX Zero. Escute bandinha Wies, ou pior fica escutando tua vizinha tocar o dia todo música gospel na mesma faixa umas mil vezes até te enlouquecer. Isso sim é música ruim. Mas não critica meu techno pop anos 70,80,90 tempos como esse sim tinham música boa letras inteligentes, coisa que não se encontra mais hj.

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