Mais educação, por favor...
O momento social e político do Brasil e do mundo como um
todo, parece mostrar que chegamos a um novo período de tensão pré-revolução,
pré mudança de paradigmas. A história mostra que esses momentos são quase sempre
dolorosos e violentos, mas que são seguidos por grandes saltos de evolução para
a humanidade como um todo. É um facto. Foi assim na revolução francesa, russa,
cubana, chinesa, as guerras mundiais, nas “primaveras” estudantis, as diversas conjurações,
etc. O nosso instinto de proteção nos faz ter pavor desses momentos – como não
ter medo, não é? Mas a verdade é que é difícil evolução sem dor, não existe crescimento
sem ossos e músculos que se reajustam, que se recolocam. É da nossa natureza, me
parece que faz tanto sentido lutar contra isso, quanto lutar contra a influência
da lua nas as marés.
É difícil, mas não é impossível. O homem já foi à lua, já
desviou rios e alterou correntes. Já erradicou doenças e inventou o avião. Já
identificou o seu próprio genoma, se colocando, em termos práticos, na posição
de poder se recriar. E de se destruir. E na minha humilde opinião, a única
coisa que fará a diferença entre um caminho e o outro é a educação, no sentido
mais abrangente possível.
Então a mensagem é simples e é para todo o mundo: se, de
fato, querem genuinamente “um mundo melhor, uma sociedade mais justa, um
planeta com mais e melhores oportunidades para todos, então, por favor, unam-se
atrás de uma solução única: educação. Foquem todos os esforços nesse objetivo.
Exige coragem? Sim, claro. Se fosse fácil, provavelmente, hoje, não teríamos os
problemas que conhecemos.
Exige coragem porque os resultados são de longo prazo. Muito
provavelmente não caberá no seu mandato político, quiçá na sua atuação como um
todo. Talvez outra pessoa, décadas lá na frente, recolha os louros da sua
coragem. Melhorar a educação para o máximo de pessoas é um projeto que transcende
gerações. Ou acham que os modelos civilizacionais que invejamos foram construídos
em semanas, meses ou anos?
E porque a educação? Porque não a saúde, a fome, a equidade ou
igualdade entre gêneros?
Porque só a educação nos dá a capacidade mínima de digerir a
quantidade cada vez maior de informação que recebemos, de discutir e,
eventualmente, resolver a grande maioria dos problemas civilizacionais. E não
vou sequer entrar no quesito das formas de educação de hoje estarem “desconectadas”
da realidade do mundo ou não. Não importa.
Deem capacidade de organizar e fundamentar o pensamento ao maior
número de pessoas possível, independentemente do grau de empatia que tiverem
com o pensamento dessas mesmas pessoas. Se elas tiverem educação, lato e stricto sensu, haverá espaço para discussão. Vai fazer uma
diferença abismal entre a vida e a morte, entre o consenso e a agressão, entre
ser civil e ser selvagem. Com educação, estimulamos os cientistas de amanhã,
aqueles que vão resolver os problemas que ainda não existem ou ainda não
criamos. Com educação, teremos os artistas que tratarão de nos aproximar um
pouquinho mais dessa imortalidade que tanto desejamos. Com educação,
descobriremos uma forma de usar os recursos da terra de forma sustentável, de
redistribuir riqueza de forma que o rico possa continuar a ser rico, sem que
para tal, tenha de haver alguém vivendo em condições desumanas – e desumanas
aqui, não quer dizer só que tenha acesso a comida e água. Quer dizer que seja
uma pessoa que não tem limitações externas ao seu crescimento, para que talvez,
finalmente, a tal da meritocracia possa fazer minimamente sentido. Com
educação, muito mais pessoas poderão fazer escolhas conscientes, tanto em relação
à sua vida como em relação ao seu papel na sociedade. Com educação, as
diferenças não vão desaparecer – longe disso – mas vamos certamente conseguir
conviver com elas com menos tensões. Com educação, muito provavelmente
entenderemos que nenhuma a religião é, na sua essência, uma praga, que podemos
viver e conviver tranquilamente uns com os outros (crentes, ateus, agnósticos,
etc) sem nenhum tipo de atrito. Com educação, fica mais fácil aceitar que o meu
melhor amigo acredite em Deus, Allah, Jah, Buda, no homem, todos eles juntos ou
em nenhum, e que isso não muda em nada a minha vida! Com educação vamos
perceber que o exercício de empatia é fundamentalmente cruel porque impossível,
mas que ele é um passo importantíssimo para ter perspectivas diferentes.
O homem me parece ser, na sua essência, um bicho egocêntrico
e, por consequência, cruelmente incapaz de perspectiva, de se distanciar de si
próprio para ver onde ele se situa ou se encaixa, na imagem maior. Pela mesma
razão, no calor do momento, ele tende também a não conseguir ver de onde veio e
para onde pode ir. O caminho mais curto – e é um caminho longuíssimo – é pela
educação. Me parece.
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PS: Há semanas, senão meses, que tenho a vontade de escrever
este texto, de materializar este pensamento desordenado. O momento atual me
impeliu a não protelar mais. Espero que entendam que é apenas a minha opinião,
um desabafo, uma esperança, um texto não acadêmico e sem pretensão.
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