Suicídio...

Só a palavra me faz tremer...

No começo desta semana, soube pela minha mãe, que o filho de um casal muito amigo se tinha suicidado. Eu me lembro bem dele, tínhamos mais ou menos a mesma idade. Quando os conhecemos, tínhamos uns 14 ou 15 anos, por aí. Lembro-me que ele tocava violino e tentou algumas vezes me ensinar. Não consigo imaginar como se sente a família dele - pais e duas irmãs. Mandei um e-mail mas só consegui escrever que "não sabia muito bem o que dizer ou fazer para ajudar a amenizar a dor". E senti a dor deles. Sempre sinto a dor deles, certamente nunca na sua plenitude, mas o suficiente para me desequilibrar, me tirar do eixo de forma negativa. Eu estava no meio de uma reunião quando vi o e-mail da minha mãe. E tudo ficou silencioso, os tímpanos taparam como se estivesse num avião...

A sensação de too close to home veio à tona.

Tenho histórias de suicídio e tentativas de suicídio na família. É tabu total. Talvez até vergonha. Provavelmente muita vergonha. No prédio onde eu trabalho, no último ano, duas pessoas se suicidaram saltando pela janela. Como se não bastasse o fato do suicídio em si ser um ato suficientemente dramático, ainda adiciona-se o risco de cair em cima de uma pessoa, com as consequências que imaginam...

Fico muito angustiado com a existência dessa possibilidade nas pessoas. Muito mesmo. É algo tão imprevisível na maioria das vezes. A sensação - paranoica - que qualquer pessoa ao meu redor pode se suicidar a qualquer momento, sem que eu entenda os sinais do seu desespero...é assustador. A impotência...vivo muito mal com a impotência perante certas situações, mas isso é meu problema. Voltando ao assunto, não consigo sequer vislumbrar esse lugar tão negro, tão espessamente escuro e imobilizador, que impede uma pessoa de aceitar - mesmo sem entender - que tudo passa. É a unica certeza que temos, que tudo passa. Um desespero tão grande que faz com que nada ao redor faça sentido. Tudo, absolutamente tudo é menos importante do que o eu e, sobretudo, a minha dor. É o que eu imagino.

Eu já tive os meus momentos de desespero, de dor, de violência interna, de total exaustão...mas nunca chegou ao ponto de apagar tudo o resto. Sempre tive aquele momento em que pensei na dor que os outros sentiriam se me acontecesse alguma coisa. Talvez seja o meu ego superdesenvolvido que me salva, mesmo nos momentos mais down. Parto desse pressuposto que sou muito importante para alguém. E sou. Filhos, pais, irmãos, família, amigos...não consigo conviver pacificamente com a ideia de causar dor. Pelo menos voluntariamente, não tenho controle sobre tudo, claro.

E hoje penso nos pais e irmãos desse rapaz, desse homem. E doi. Uma pena. Que desperdício...

As pessoas deveriam ser capazes de vociferar essa dor. Capazes, não deveriam ter esse direito. Sem ser apelidadas de loucas... A minha vontade ao escrever estas linha se resume a isso: se alguém que leu isto se sentir triste um dia, fale! Fale com alguém. Garanto que alguém vai ouvir. Pode não ser a primeira pessoa nem a segunda, mas uma vai ouvir. E vai ouvir com atenção. E tudo passa. E se não passar, o corpo se habitua. Somos uma máquina espetacular. Como eu disse aqui, a capacidade de sobrevivência do ser humano é surreal. Relativizem. Infelizmente (ou felizmente, neste caso...nem sei) há sempre alguém em pior situação.

E se nada disso funcionar...no pior dos casos, venham visitar o meu canto...sei lá. Deixem uma mensagem...

Comentários

  1. Compartilho totalmente desse "vazio que preenche" a cabeça num caso como esses. Não consigo sequer imaginar tamanha dor, apesar de ter as minhas. Muito menos, consigo entender o mecanismo de uma mente que realiza um ato de tamanha coragem (no sentido de atitude mesmo), e nao consegue encarar/resolver/abstrair o dia a dia, com todas as suas relatividades e dificuldades, comuns a todos nós. Solidarizo-me!
    =(
    Nane

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  2. Esse vazio está um pouco em todos nós, não? Confesso que até agora não decidi (se é que existe uma decisão a tomar...). Se a coragem é de quem vai ou de quem fica...
    Beijo Nane!

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