Eu tentei, Bruno. Nós tentamos...

Soube agora que você se foi. Finalmente. Digo finalmente, porque imagino que todo o processo até você conseguir ir deve ter sido um composto espesso de sofrimento, sufoco, dor... o que a gente imagina ser o inferno.


A gente nem era os melhores dos amigos, mas por alguma razão você me procurou. Me tocou. Algumas vezes de forma cruel por me fazer sentir que basicamente só não terminava tudo porque tinha a sesnação que me devia alguma coisa. E não me devia nada. Te vendi um baixo para ver se isso te fazia voltar a tocar, compor, criar... n vezes você tentou me vender o baixo de novo...e vendeu, só para eu insistir que você ficasse com ele, porque eu não tinha uso para ele. E umas vezes, você disse que estava agoniado com a ideia de morrer e o baixo ficar com você. E também lembro das letras que voc~e escrevia, para tentar fazer músicas. E você dizia que não conseguia fazer nada com elas, "porque estavam muito deprê". Estavam. Sensação de que podiam ser apenas sintomas de um estado passageiro. Essa era sempre a esperança. Que surreal.

Eu estava no meio de uma reunião online, quando recebi a notícia. Desliguei a câmera e microfone por alguns segundos, para tentar respirar, processar a violência da informação. Depois da reunião acabar, estava tentando juntar as sinpses para continuar o trabalho e fiquei travado um tempo na janela do quarto pensando o quão estranho era pensar que você simplesmente não "estava" mais. Não era, mais. que tudo o que eu estava observando pela janela, naquele momento - crianças no parque, pássaros na quadra, carros passando, vento nas árvores etc - você não veria mais. Até agora, entendendo, mas sem aceitar, de fato. Mas que escolha temos, afinal. Está feito.

Já falei com algumas pessoas que, como eu, apesar de ter algum conhecimento da sua depressão, ainda estão incrédulos com a sua partida. Atônitos. 30 e poucos anos. Me lembrou o Joel, em Lisboa. Mesma coisa, mesmo fim. Que doença de merda...

Mas é isso, Bruno. Que sua dor tenha terminado e que tenha encontrado paz, seja onde estiver. E que tenha música. Muita música. Quem sabe, alguém coloca música nas suas palavras. Gente talentosa não falta aí, infelilizmente. Ou felizmente, nem sei.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dia 1, de não sei quantos...

Dia 29, de não sei quantos...

Dia 3, de não sei quantos...